terça-feira, 23 de setembro de 2008
Caminhando e cantando
Os portugueses passam a vida a tentar iludir a depressão. Anti-depressivos e ansiolíticos consomem-se como pãezinhos quentes, segundo notícia de primeira página no Público de hoje. Provavelmente a culpa é da eterna crise que sempre nos afastou dos patamares mais atractivos, e que agora, com roupagem internacional, permite que até já se fale em duvidoso futuro. Também a arrepiante "canção nacional" não ajuda nada. Parece que gostamos de cantar a desgraça como graça. Esmorecemos com a alegria dos outros. Estar alegre, em Portugal, foi, durante muitos anos, pecado não redimível. Não discutimos Deus nem a Pátria. Fica-nos o Fado. Triste taluda.
Tudo isto é triste num país onde há quem insista em contradizer a fatalidade da depressão permanente. Ao invés da lamúria reinante, temos por cá do bom e do melhor. Sabemos fazer agasalhos como ninguém. Andamos bem calçados. Produzimos bom café. Bons cosméticos. Fornecemos equipamentos desportivos de elevadíssima qualidade. Criámos facilidades tecnológicas primeiro que toda a gente. Temos bons designers. Bons artistas. Bons escritores. Gente esforçada e com vontade de fazer pela vida. Mas assim de repente não parece. Ficamos pelo lamento, essa clássica manifestação cultural nacional.
Provavelmente falta-nos comunicar entre nós. É a falar que a gente se entende. Mas falar, nos dias que correm, é comunicar com critério, percebendo a utilidade que as nossas vontades trazem à comunidade. Portugal não é uma marca. Não se promove como um sabonete.
São políticas acertadas que estimulam o crescimento dos países.
É a política que estabelece as regras do desenvolvimento.
O desenvolvimento teremos de ser nós a fazê-lo, com atitudes.
Se calhar têm faltado as regras.
Seria melhor que tomássemos atitudes positivas em vez de anti-depressivos.
Mas isso não está à venda nas farmácias.
Imagem Balthus