domingo, 13 de janeiro de 2008

Miguel e a poesia


O poeta Miguel de Castro faz hoje 83 anos. Liguei-lhe ao princípio da tarde. A saúde bastante debilitada não foi impedimento para uma longa conversa. Recordámos a convivência quase diária que mantivemos quando eu tinha o meu poiso de trabalho em Setúbal. Ele e o Luiz Pacheco apareciam durante a manhã lá no ateliê e depois rumávamos ao apetecido repasto. O Pacheco nunca pagava o almoço, dizia que a pensão não dava para luxos desses. Mas fazia questão de pagar o vinho. Ora, escusado será dizer que, muitas vezes, o vinho era o que saía mais caro na refeição. Recordámos tudo isto e muito mais, esta tarde. Combinei passar lá por casa na próxima terça-feira.
Depois logo digo.

Miguel de Castro é um poeta de primeiro plano. Autor de obra curta mas de consistente percepção das realidades literárias. É um contemporâneo. Atento aos novos poetas, apesar de possuidor de uma intensa e cativante cultura clássica. Os seus dois mais recentes livros foram por mim editados na Estuário: Terral, 1990 e Sonetos, 2002.
Para comemorar o seu aniversário vou passar para aqui um texto de Terral. Podem lê-lo em voz alta.
Oiçam-no, portanto.

Foi o sol na brancura do teu rosto?
Foi o vento no sul dos teus cabelos?
Foi o rebanho dos meus dedos frios
perdido entre as dunas do teu peito?
Apenas isso ou, vagarosa, a mão
subindo na desordem dos joelhos?

Foi outra vez a chuva no verão.
Foi, no lugar da mão, a tua boca.



Parabéns por tudo, Miguel.