sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007
Somos nós os teus cantores
A comemoração da morte de José Afonso não me interessa para nada. Prefiro lembrar a vida, sempre. Não me apanham em ladainhas fúnebres, passado tanto tempo. A memória que me ficou de alguns momentos que não esqueço, não mo permitem. Tive o privilégio de com ele conversar, rir, arrasar alarves, comentar músicas e trocar livros. Muitas vezes, nos dias de hoje, lembro-me do que pensaria o Zeca sobre isto ou aquilo: as coisa da nossa vidinha e da vida dos outros, ou seja, da política. Depois disto tudo, queriam que andasse para aí a chorar? Era o que faltava!
Para além deste desabafo íntimo, que compartilho com os meus amigos, não se pode esquecer a elevação de carácter, a grande cultura e as permanentes preocupações humanísticas. Ao nível artístico, foi José Afonso quem conferiu dignidade à Música Portuguesa (assim, com maiúsculas, que é para não haver dúvidas). Nunca foi básico nem populista. Foi ele que resolveu tornar temas populares em sofisticadas entoações. Foi um grande senhor da Cultura Portuguesa. Ninguém, dos que hoje trabalham a arte de elaborar sons, o esquecem. Eu, que ando por outras "artes" também não. Continuo a ouvi-lo. Dizem por aí que morreu. Mas estas músicas, que agora ouço, parece que foram feitas ontem...
Andy Warhol Imagem