domingo, 31 de dezembro de 2006

Já passou


A invasão do Iraque foi o acontecimento mais relevante, em temos internacionais, no ano que hoje termina. Um ano marcado, já na recta final, pelo fim físico de dois ditadores. Um, Pinochet, morreu na cama sem perturbações judiciais. Outro, Saddam Hussein, é condenado e mandado para o cadafalso quase de imediato. Ainda por cima em tempo de celebrações da sua Fé. Somos assim levados a crer que é a vontade do poder americano que dita as regras. Os Estados Unidos apoiaram Pinochet contra os seus inimigos, à época. Também apoiaram Saddam quando isso deu jeito contra o Irão. O homem do Iraque deixou de ser útil e passou a ser perigoso — paga com a vida essa traição. O tirano de Santiago do Chile sempre se portou a par das ordens da Casa Branca, sem oscilações — morreu descansado.
Dois pesos e duas medidas para uma tendenciosa avaliação do que é a Justiça.

Cá na terra a coisa está a correr bem para quem decide. Nas eleições presidenciais, o que aparentemente poderia parecer adversidade transformou-se em concordância profunda. Não há nada que indisponha Cavaco contra Sócrates. Juntou-se a fome com a vontade de comer. A oposição de direita ficou sem assunto e deixou de existir. A de esquerda foi para a rua. Mas o ruído parece não incomodar quem governa. No próximo ano é que vão ser elas. Que é como quem diz: vamos lá a ver se este é o caminho ou se as reformas não passam de experiências mal sucedidas. Resultados precisam-se.

Na Cultura não estamos nada mal. Espectáculos, exposições importantes e acontecimentos relevantes não faltam no país. O fim da Festa da Música não passa de um percalço. Mais lamentável foi a tomada do espaço de exposições do CCB pelo comendador das colecções. As cedências foram excessivas, na minha opinião.

Regionalmente estamos mal, muito mal. Nas cidades em que me movo, Setúbal e Lisboa, reina a maior inércia.
Lisboa está entregue a uma coligação de direita, não se percebendo muito bem se ainda existe ou não.
Setúbal está simplesmente mal entregue. Os autarcas nomeados para substituir Carlos de Sousa não têm estrutura política nem competência técnica. É gritante. Os suburbanos que dominam a Câmara Municipal confundem atitudes políticas com ataques pessoais. Contra isso, nada a fazer. Resta-nos aguardar a hora em que se possa fazer qualquer coisa para os mandar dali para fora.

Noutro plano dos regionalismos, é provável que 2007 seja o ano da independência da Madeira.

Depois há os apitos: os dourados e os que são comprados para apitar jogos. Também há uma "literatura do apito". Carolina Salgado é o nome da escritora que, apenas com um título, já vai em dez edições. O estilo promete. Em relação a este assunto fico por aqui. Como não vou em futebóis, desejo o melhor para Maria José Morgado. Se ela não conseguir domar a malta da bola, não sei quem o conseguirá.
Vamos ver.

Renovo votos de um bom 2007.

Robert Rauschenberg Imagem