domingo, 10 de setembro de 2006

WTC 11/9



Estava a pouca distância do WTC quando os aviões mudaram a rota. Tinha andado por lá na véspera. Assisti às primeiras reacções nas ruas. Ouvi as notícias em rádios de automóveis que paravam para disponibilizar a informação. Reparei na rapariga que ligava, desesperada, para o namorado que não respondia. Comovi-me com o seu pranto quando percebeu o que lhe tinha acontecido. Cruzei-me com as testemunhas mais próximas cobertas pela poeira da derrocada: autênticas estátuas caminhantes em incrédulo desalento. Ninguém estava a perceber muito bem o que tinha acabado de suceder. Alinhávamos hipóteses: ataque terrorista ganhou logo terreno. E agora? Tinha voo de regresso marcado para esse dia. Esquece: é esperar e estar atento. Comprar jornais, ir para Central Park perceber a vida da cidade para além da morte, voltar ao hotel, ver noticiários televisivos: "está o Bush na televisão", nada de novo, caminhar por Times Square. Muita gente na rua. Conversamos. Somos todos novaiorquinos. A vida volta com revolta. Entretanto vamos percebendo comportamentos. Por exemplo: Bush preferiu pairar nas alturas durante horas. Se calhar não estava a perceber nada. E tinha medo. É legítimo.
Regresso passado cinco dias. Era domingo. Foi bom regressar, mas vou querer voltar a Nova Iorque. Ainda não aconteceu.
Já em Portugal, há uma estação de televisão que me elege "o primeiro português regressado". Houve entrevista. Cantores pimba em antecipação. Quem me manda meter com foleiros? Não gostei. Arrependi-me, mas pronto.
Agora passaram cinco anos. Percebemos que Bush não percebeu nada. E parece que agora é que começa o debate a sério sobre as consequências do atentado. Depois de graves consequências provocadas. Pode ser que um dia a gente perceba. Pelo menos percebemos muita coisa antes de Bush. Mas isso não é nada bom.
JTD
Imagem cbsnews