sexta-feira, 13 de janeiro de 2006

O que está em Portugal é dos portugueses

A polémica posta a circular sobre as utilizações de nomes de pessoas ou cantorias, por mero exercício de retórica eleitoral, provocaram alguma confusão em vários meios de comunicação. Discussão inútil? Penso que não. Vejamos:
Jerónimo não gostou que Alegre usasse Cunhal, em homenagem ao seu percurso como anti-fascista. É puro oportunismo por parte de alguém que sempre combateu as ideias do antigo secretário-geral do PCP, diz o actual dirigente comunista.
Também sobre Cavaco foram lançados cobras e lagartos pelo simples facto de ter cantado a "Grândola vila morena" quando se deslocou aquela terra alentejana, na companhia do tótó do presidente da câmara.
Ora o que está aqui em causa não é o direito de propriedade. Qualquer um dos casos referidos poderá ser apreciado por quem o quiser. E todos temos o direito de o manifestar. A expressão de afectos é livre. Poderemos ter a sensação que Jerónimo dispara na direcção errada ao insistir no alegado abuso. Perderemos o nosso tempo ao manifestarmos perplexidade acerca dos súbitos dotes de cantor de Cavaco. Mas uma coisa é certa: Nem Alegre alimentou, nunca, grande apreço pela personalidade de Álvaro Cunhal, nem Cavaco mostrou grande entusiasmo pela data de Abril em que foi utilizada a canção como senha para a revolta dos militares. Nas comemorações que assinalaram os 30 anos da revolução, limitou-se a revelar o seu enfado por causa da confusão que reinava no país, numa altura em que regressava de Londres e se preparava para se instalar na capital portuguesa. Também ninguém lhe reconhecerá, ao contrário de a Manuel Alegre, um átomo de admiração por José Afonso.
Estamos, portanto, em ambos os casos, perante puro cinísmo eleitoral. E isso não é bonito de se ver. Digo eu.
É claro que eles se podem manifestar, mas nós também, que diacho!
JTD