quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Ressaca

Agora a sério: o debate entre os dois candidatos mais acreditados para chegar a Belém não foi nada de especial.
Cavaco utilizou os deslizes de argumentação de Soares para puxar o brilho à sua débil prestação.
Acusou, várias vezes, o debate de só discutir as suas ideias. Soares reagiu como se ele as tivesse de facto em vez de responder com um simples: "não estamos a discutir as suas ideias mas sim a falta delas". Soares raiou a indelicadeza ao ponto de se referir a Cavaco com um displicente "ele". Outra: "o senhor não lê livros, lê dossiers?". Outra ainda "Dizem responsáveis políticos europeus que ele não tem conversa". Todos dizemos coisas destas, e piores, em conversa com amigos. Ali exige-se mais. Tratou o candidato de direita como um verdadeiro mentecapto, o que, sendo o que ele pensa, não é útil à discussão, mais a mais estando perante uma enorme plateia que é o eleitorado. Cavaco soube gerir esta inabilidade até ao fim. Como não tem grandes qualidades ao nível da retórica, usou e abusou do excesso de "conversa" de Soares. Claro que foi bem giro ver Cavaco engolir repetidamente em seco, mas pede-se a alguém com a experiência de Soares maior conhecimento de quem está à sua frente. Poderemos pensar que nesta coisa dos debates, desde que seja para dar na cabeça do Cavaco, tudo bem. E se não tem eficácia no terreno? Aí é que está o busilis. É que aturar o cara-de-pau durante um ror de tempo, a mastigar bolo-rei ou lá o que for, é obra. Lá está, até parece obra do diabo, como diria o Jorge Santos.
JTD