sexta-feira, 16 de dezembro de 2005

Herberto Helder | Ilda David


Folheie as mãos nas plainas enquanto desusa a gramática da madeira, obscura
memória: a seiva atravessa-a.
Que a mão lhe seja oblíqua.
Aplaina as tábuas baixas e sonolentas - torne-as
ágeis.
Leveza, oh faça-a como a do ar que entra nelas.
Por súbita verdade a oficina se ilude: que,
de inspiração,
o marceneiro transtorne o artesanato do mundo.
Aparelha, aparelha as tábuas cândidas.
A sua vida é cada vez mais lenta.
Como entra o ar na gramática!
Que Deus apareça.


Herberto Helder Texto
Ilda David Imagem

Este poema de Herberto foi-me oferecido dentro de um cartão de boas festas que o Manuel Rosa, da Assírio & Alvim, me enviou.
Um belíssimo poema, diga-se.
Um bom ano de 2006 para ti, Manuel.
JTD