domingo, 18 de dezembro de 2005

Despedidas



Miguel Sousa Tavares despediu-se na passada sexta-feira dos seus leitores no Público. Como habitualmente, forneceu-nos uma excelente crónica, onde passou em revista as opiniões que foi tendo, do país e arredores, durante o seu tempo naquele jornal. A coluna de Miguel foi durante estes anos todos um espelho do que eram quase sempre também as minhas opiniões. Um espelho de altíssima qualidade, de grande expessura, que nos transmitia um agradável conforto nas manhãs de sexta-feira.
Obrigado por tudo, Miguel, e volte sempre.

Outra despedida da semana, foi a de José António Saraiva no último Expresso. A coluna do ainda director do jornal morreu ontem, segundo as suas próprias palavras. Devido à grande importância que constituíram no panorama do jornalismo pátrio, deveria ser proposta para o próximo sábado um missa de sétimo dia.
Sem mais demoras, coloco aqui dois nacos da preciosa prosa que o reverenciado director do referido semanário verteu para a sua "Política à portuguesa": "A coluna registou um êxito imediato, vindo a tornar-se uma das mais lidas, influentes e carismáticas de sempre da imprensa portuguesa". Uau! E a terminar a glosa; "Despeço-me de si leitor, garantindo-lhe que nas mais de mil crónicas aqui publicadas nunca o tentei ludibriar, enganar ou iludir. Fui honesto consigo, começando por ser fiel a mim próprio. Respeitei-o, procurando ser claro, rigoroso, isento, atento, criativo, independente de partidos, personalidades, organizações ou seitas, impermeável a modas - no sentido de lhe dar semanalmente a melhor opinião da imprensa portuguesa". Mais nada. Assim é que é! O homem que um dia disse que ainda estava nos primeiros passos para o Nobel da literatura, teve um acesso de humildade ao considerar-se um simples cronista da imprensa nacional. Que é lá isso, meu rapaz. Reuna as mais de mil crónicas em livros e vai ver que a academia sueca lhe fará justiça. O Nobel é seu. Você merece-o. As suas crónicas são literatura pura e dura.
Apesar da despedida, anunciou que vai continuar noutro local em coluna com outro nome. Uff! Ainda bem que avisa. Este país não pode prescindir do seu melhor numa altura destas. Haja rigor e isenção.
JTD