Domingo passado, aqui no Brasil, houve o referendo
sobre o desarmamento, que teve a esmagadora vitória do
“não” à pergunta “o comércio de armas e munição deve
ser proibido no Brasil?”. Muitas foram as críticas em
relação à sua realização no atual momento vivido pelo
país, em meio à crise política que se arrasta já há
alguns meses. Contudo, não se pode deixar de registrar
o fato de que a sua própria consecução é um feito
notável em termos de realização democrática, se
levarmos em conta que o país têm 122 milhões de
eleitores e que no ano de 2000 o processo de votação
eletrônica atingiu 100% dos municípios brasileiros,
sendo mais de 400 mil urnas eletrônicas distribuídas
por todo a extensão do imenso território.
Embora o país tenha deixado escapar a oportunidade de
tomar uma decisão histórica no sentido de diminuir os
índices de mortes violentas causadas por armas de
fogo, as análises que procuram explicar a vitória do
“não” têm apontado para um protesto da população em
geral em relação às políticas de segurança pública. É
certo que apenas o desarmamento não resolve as
inúmeras e complexas questões relativas ao assunto,
contudo, os argumentos utilizados na campanha pelos
partidários do “não”, batendo na tecla do “direito de
portar uma arma para se defender”, apontam para
soluções perigosamente individualistas e sem a análise
de que a violência está ligada à pobreza e à exclusão
causadas pela cada vez mais alta concentração de
renda.
Bem, por último, cabe ponderar que, se por um lado o
Brasil se tornou um exemplo de lisura em processos
eleitorais em virtude do processo de votação
eletrônica, por outro, certamente não tem sido exemplo
de probidade na política, ainda mais quando se sabe
que o ex-tesoureiro do PP, partido de sustentação da
base do governo, um dos envolvidos no escândalo do
mensalão, chama-se Jacinto Lamas…
ALF