quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Momentos de ouro


Há algo de catártico num concerto de Jonh Cale. Pelo menos é o que eu sinto. Ontem, no espectáculo, sentado na primeira fila do grande auditório do CCB, com o homem ali à minha frente, comecei a imaginar a legião de gente com que privou e trabalhou: Andy Warhol, Lou Reed, Nico, Gerard Malanga, Bresson, e mais toda aquela gente que cirandava na "factory", os "The Velvet Underground" em acção alternativa e experimental, a grande cidade a desafiá-los...
Ali sentado na plateia do CCB, senti muito mais do que a já notória admiração. O fascínio traíu-me e transformou-se em inveja. Sim inveja. Que feio, não é? Pois é, mas foi o que por momentos senti mesmo. Claro que já passou. Aliás troquei de imediato este desprezível estado de alma pela sensação de privilégio que foi o estar ali na sua frente, partilhando duas horas de salutar convívio artístico. E que convívio! Um concerto do caraças.
São momentos assim que nos trazem a vontade de continuar a tentar fazer do nosso mundo pessoal um sítio mais engraçado. Confesso que me esqueci completamente dos desgraçados candidatos a autarcas que transformam as "ideias" em ruído e as terras que gerem em sítios mal frequentados. E lembrei-me da frase de Fernando Pessoa: "A Arte tem mais valia porque nos tira daqui". Mais nada.
JTD