quarta-feira, 22 de junho de 2005

Ruidosos meliantes

Assisti hoje, ao fim da tarde, a uma gigantesca manifestação de agentes da autoridade. Foi no Rossio. A pouca distância de mim caminhava uma bonita rapariga a quem os respeitáveis agentes não foram indiferentes, exprimindo alguns mimos de substantivo bom gosto. Afinal tratava-se apenas de uma rapariga. Uma simples criatura condenada a trabalhar até aos sessenta e cinco anos. Um ser humano, é certo, mas sem os direitos que os ruidosos manifestantes mantém até agora.
Chegada a casa, nos noticiários televisivos, assisto às reportagens sobre o grandioso acontecimento. Lá estava um exaltado senhor manifestando a sua revolta pela dilatação dos anos de trabalho. Estava cansado de tanto trabalhar, coitado. Até houve uma missa, rezada por um polícia/padre, e não faltou um manequim deitado num caixão, simbolizando uma morte recente de um colega dos foliões, demonstrando um elevado sentido de formação humanística. Assim, à paisana, não passam de ruidosos burgessos. A grande crise é a reforma aos sessenta e cinco. Se tudo correr bem, também eu. Onde está a crise, senhores guardas? Estão a pensar ser felizes só depois de reformados? Estão cansadinhos?
Azarucho.
RR