quarta-feira, 2 de fevereiro de 2005

Kurt Shhwitters | Helder Moura Pereira



Directamente dos livros para o campo

Directamente dos livros para o campo.
O elogio da sinceridade, sincero
amor, tão sincero e tão duvidoso, tão
regular. Cai um motivo, um trovão
e um susto de ciúme, para o poema ser
verdadeiro e desenhar-te, com o sol
por trás, a terra toda cheia de terra.
Abria em leque: glicínia. Sobem alinhados
cheios de água: salgueiros. A cada
dia, de cada vez, tudo é obra de reconciliação.
É um retrato, é toda uma aventura
este momento, um pirilampo quieto,
carraça colada ao umbigo. Um telemóvel
apita na escuridão e tu vês, pirilampo,
tu vês a minha sombra. Não se ouve
este ribeiro nem sombras se ouvem
se parado o sinal que nos deu a fogueira,
se parado o leite que nos deu a figueira.

Helder Moura Pereira Poema
Kurt Shhwitters "Assemblage" e óleo em madeira