segunda-feira, 17 de janeiro de 2005

Lado a lado



Fátima Rolo Duarte lançou este "Onde estás" já lá vão dois anos. Um livro em que o narrador nos "explica" onde estão os outros. Ou melhor, onde se tenta perceber que relação estabelecemos nós com os que amamos, na distribuição dispersa das peças no tabuleiro de um jogo recorrente e ás vezes tão complicado. Jogo a que quase sempre, ingenuamente, pensamos conhecer as regras.
É por isso que "Onde estás" não é uma interrogação. É uma verificação com dúvidas: as constantes investidas na tentativa de perceber o outro, tantas vezes sem o tão esperado sucesso.
Um livro que gostei de ler. Aguardo a publicação da próxima reflexão da autora.
O texto escolhido para compor a contra-capa, permite-nos uma aproximação ao armadilhado território desta história. JTD

"No início é tudo tão delicado como no planeta
da terra amarela onde ele apanha as pedrinhas
que guardo no meu peito aberto.
Recordas-te agora da criança que eu carregava
ao colo, que partia e eu não queria,
amor, não vás embora sem mim
e quando olhas-te, choravas tu tanto, e ela dormia,
tão parecida com a aresta do teu rosto,
um relâmpago, um menino pequenino
a desabar no meu colo e dizias
que a estrada era sempre a mesma.
' Eu morro' e a minha boca calada
de nada te servirá.
Ficamos assim como estamos, lado a lado, atados.
Porque partiste sem mim?"


Titulo: Onde estás
Autora: Fátima Rolo Duarte
Capa: Jorge P. G.
Edição: Oficina do Livro.
Novembro, 2002

Pintura de Mark Rothko