sábado, 1 de janeiro de 2005

Bocage 2005


Bocage e as Ninfas. Óleo de Fernando Santos. Museu de Setúbal - Convento de Jesus

Manuel Maria Barbosa du Bocage
Nasceu em Setúbal a 15 de Setembro de 1765 e morreu em Lisboa a 21 de Dezembro de1805.
Neste ano que agora nos acompanha, assinalamos os duzentos anos da sua morte.
Comemoramos o quê? Comemoramos a sua poesia e sua postura irreverente num tempo de poucas permissões.
Bocage era neto de marinheiro e marinheiro se tornou a partir de 1781, tendo embarcado para Goa no ano de 1786.
Depois de ter fugido para Macau, regressou a Lisboa em 1790. Foi a partir desta data que teve início a sua vida de boémia.
Não foi grande companheiro de padres e reis. Adoptou um pseudónimo - Elmano Sadino.
Foi pouco convencional nos usos e costumes da época em que viveu. Publicou, em vida, alguns poemas. Nunca se preocupou com o politicamente correcto, abordando temas como o amor e o ódio, a liberdade. a religiosidade, a fatalidade do Ser Humano. Sempre com a preocupação da perfeição absoluta.
Neste ano de comemorações de uma efeméride que lhe diz respeito, esperemos que a cidade que o viu nascer não mace a sua memória com os já tristemente famosos disparates, tornando um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos num objecto de eleição de artistas e cantores de pouca credibilidade intelectual.
Senhor presidente e senhora vereadora: Bocage não é propriamente um produto da sociedade de usar e deitar fora. Foi alguém, que no seu tempo, tería desprezo por esse tipo de atitudes. Se não sabem como respeitar o seu testemunho, perguntem. Não façam mais alarvidades do que as que já mancham, e muito, a vossa curta existência à frente dos destinos da autarquia.

Ao longo do ano faremos as devidas vénias a este autor extraordinário. Hoje começamos com este poema:

Debalde um véu cioso, ó Nize, encobre
Intactas perfeições ao meu desejo:
Tudo o que escondes, tudo o que não vejo
A mente audaz e alígera descobre.

Por mais e mais que as sentinelas dobre
A sizuda Modéstia, o cauto Pejo,
Teus braços logro, teus encantos beijo,
Por milagre da ideia afouta e nobre.

Inda que prémio teu rigor me negue,
Do pensamento a indómita porfia
Ao mais doce prazer me deixa entregue.

Que pode contra Amor a tirania,
Se as delícias que a vista não consegue
Consegue a temerária fantasia?


RR