segunda-feira, 22 de novembro de 2004

O suicídio do pensamento

Na passada Quarta-feira, Aura Miguel, numa carta ao director do jornal PÚBLICO, arrasa um texto de Frei Bento Domingues, publicado no Domingo anterior, com o título "Que poderemos saber ao certo sobre Jesus".
O que agasta a vigilante Aura é a desfaçatez de Frei Bento ao interpretar a vida de Cristo. Segundo a fervorosa católica essa interpretação põe em causa a fé. Quer dizer: Deve-se ter fé sem se procurar conhecimento. A procura do conhecimento leva a interpretações que tornam a fé mais débil. Para esta devota, o melhor mesmo, será encher a missa de velhinhas que nada questionam. Ou então, preencher o espaço de debate teológico com o notável argumento: "Está tudo na Bíblia, não há nada a fazer". Ficamos, assim, com todos os problemas circunstanciais e existenciais resolvidos.

A beata prosápia de Aura tem o amén de muitos protagonistas do momento actual. Os arautos do "se Deus quiser" e do "O futuro a Deus pertence" alimentam nestas criaturas a vontade proselitista de moldar as opiniões alheias. Vivemos um tempo de leviandade e de apologia da ignorância. A direita rejeita os poucos intelectuais que lhe são próximos. Alguns católicos rejeitam quem pensa. Tentam, isso sim, deslocar a religiosidade para algo inquestionável, sem conteúdo crítico. Crítica é discussão. Logo é para excluir do culto.

Frei Bento Domingues, na crónica de ontem, não perde muito tempo com a discordante opinante. Apenas faz notar que a senhora passou ao lado da problemática do seu texto. Este destaque publicado por frei Bento permite-nos espreitar para o seu pensamento:
"A abordagem fundamentalista é perigosa, porque atraente para as pessoas que procuram respostas bíblicas para os seus problemas da vida"(...) "O fundamentalismo convida, sem o dizer, a uma forma de suicídio do pensamento".
Completamente de acordo.
JTD