quarta-feira, 28 de julho de 2004
Luiz Pacheco | Comunidade
Hoje vamos visitar um grande escriba deste mal tratado idioma. Vamos, com Luiz Pacheco, viajar pela COMUNIDADE, um dos mais incríveis textos utilizadores da nossa língua. Este fraseado não é recomendável a acomodados e outras espécies de sabujos. Nestes tempos de "foliões e parasitas da vida" apetece recordar o que esta terra tem de melhor. É neste território que entra o Pacheco. Aqui vai:
"Não sei nada. Duvido de tudo. Desci do fundo dos fundos, lá onde se confunde a lama com o sangue, as fezes, o pus, o vómito; fui até às entranhas da Besta e não me arrependo. Nada sei do futuro, e o passado quase esqueci. Li muito e foi pior. Conheci gente estranha nesta viagem. Pobre gente: estúpidos de medo, doidos espertalhões, toscos patarecos, foliões e parasitas da Vida, parasitas (os mais criminosos, estes) chulos do próprio talento, desperdiçando tudo: as horas do relógio deles e dos outros, e os defeitos de todos, que tudo tem seu calor e seu exemplo; ou frustados falhados tentando arrastar os mais para o poço onde se deixam cair por impotência de criar, lazeira ou cobardia (mas o coveiro nada perdoa). Cadáveres adiados fedorentos viciosos de manhas e muito mal mascarados. Uma caca a respirar."
Até amanhã. JTD