O casamento real provocou uma onda de revivalismo monárquico no nosso país. Há quem tenha saudades de um passado em constantes salamaleques pelas cabeças coroadas reinantes. Até Marcelo Rebelo de Sousa falou no referendo. Não há razões para nos preocupar-nos, como tudo o que não tem importância, isto também passa. Eduardo Prado Coelho escreveu uma divertida crónica no Público de hoje, que acaba assim:
"Mas a grande cena era no café. Aqui todos os fantasmas vinham ao de cima e cruzavam-se numa vozearia feita de incomunicabilidade. Um homem interrogava-se num tom de reflexão sobre as fraquezas humanas: "que levará uma mulher a deixar tudo o que tem graça e a não poder mais andar de bikini?". E repetia: "porque ela já não pode andar de bikini", como se fosse uma alienação dramática que sintetizava todo anacronismo da monarquia. Mas de uma outra mesa uma mulher proclamava: "Estes não são como os nossos políticos. Em Portugal qualquer pessoa pode ser político, sabiam? Estes são ensinados desde pequenos a governarem". Era pena que o princípio democrático não lhe fosse óbvio, mas não me dei ao trabalho de abrir um debate de fundo. Limitei-me a notar que na Europa governavam pouco, era mais uma coisa simbólica. Como a senhora vivia em plena terra dos símbolos, a existência destes tornava-se imperceptível. "Ela, a rainha, não é como estas nossas foleiras que usam um vestido e depois deitam-no fora ou dão às criadas. Disse-me uma amiga minha que ela aproveita os tecidos e com eles faz vestidos novos.". Comovi-me logo com a ideia da rainha, de dedal e linha na mão, a passajar os vestidos na sala de estar do palácio real enquanto sua alteza real vê a televisão.
Como irá fazer Letízia com os vestidinhos das festas? Uma coisa já nós sabemos: não os vai transformar em bikinis..."
Eduardo Prado Coelho Segunda-feira, 24.Maio.2004 Público