De segunda a sexta-feira, o canal brasileiro GNT tem o mérito de apresentar um dos melhores "talk-shows" que alguma vez passaram na televisão em Portugal. É o Programa do Jô, um "remake" do modelo americano tal como é o HermanSic, mas a milhas de distância do português. É que o Jô Soares tem o condão de não humilhar publicamente os seus convidados (mesmo quando o seu interlocutor pensa que é a reencarnação de Jesus Cristo), conseguindo sempre retirar uma belíssima história da vida daqueles que aceitam ir ao programa.
Ele até pode brincar com as situações, mas com graça, sem roçar o ordinário ou o boçal a que estamos habituados na televisão portuguesa e, em particular, no HermanSic. E ainda por cima tem piada. Mais: ele é culto. Não tem uma cultura superficial só de televisão ou do "metier" como mostra o Herman.
De uma maneira geral, Jô sabe do que fala e valoriza a conversa dos seus convidados. Mas também não assume a atitude do sabichão enfadado. Pelo contrário. Sabe ouvir e deixa-se surpreender pelas histórias dos seus convidados. E esse é talvez o seu maior mérito. O Programa do Jô é aliás um somatório de qualidades: tem bom "papo" como dizem os brasileiros, boa música (muito jazz) e um ambiente descontraído, sem o "show off" de HermanSic.
Por tudo isto, fico espantada quando consulto alguns artigos brasileiros sobre o apresentador e verifico que o Jô é muito criticado por falar mais do que os seus convidados. Ah! Isso é porque não conhecem o Herman!
SOFIA RODRIGUES, Público. Domingo, 21 de Março de 2004