Como amanhã é dia de poesia, estas páginas já estão a comemorar. Hoje vamos conviver com António Cabrita. Poeta, crítico, homem do cinema, da imagem, das opiniões intensas e sérias sobre a Arte e a natureza dos artistas. O poema aqui colocado está prantado no livro "Os Abysmos da Mão", publicado pela Íman, em 2001.
Os olhos em tudo são inábeis,
menos no sonho. Para mais
em Abril,
com os aguaceiros a rilhar
as velas persianas de ripinha
e o condenar à espórtula
as salamandras. E
que me impede de sofucar?
O roçar do tempo nos teus pulmões,
os olhos em tudo inábeis,
menos
nas mãos que me desposam.
Por isso perdura o que amo
no incicratizável susto
do mexicano Salvador Novo:
"Um domingo
Epifania
não voltou mais a casa".
O mapa da retina?
A menina dos meus olhos,
o seu punho no meu gume.
E pronto. Até amanhã e boa poesia. JTD