A insustentável leveza do saber foi o título que João Caraça escolheu para a conferência que proferiu no passado dia 16 de dezembro na Gulbenkian. Não faltei. Fiquei admirador do professor a partir de uma entrevista que ele deu a Ana Sousa Dias no seu admirável "Por outro lado". Aliás o professor Fernando Ramon Ribeiro, ao apresentar João Caraça referiu-se a esta entrevista como a fonte de popularidade do conferencista.
Para o arranque começou por projectar um desenho de Hobbes (o tigre da tira diária do Público), em que o bichano diz mais ou menos isto: "Para quê perder tempo a aprender, se a ignorância é instantânea". Esta frase serviu de pretexto para um desfilar de sabedoria, sempre com humor e sentido de oportunidade. Assistência, na maioria estudantes, presos a cada frase, a cada expressão, a cada projecção no telão. Terminou com uma frase - "É preciso recomeçar todos os dias". No debate, confrontado com a questão da eternidade, respondeu: "A eternidade? não conheço. Mas deve ser uma grande chatice". É assim. Há coisas para que nem os grandes pensadores encontram resposta.
Também vale a pena ler o que ele publicou. Deixo aqui parte da introdução à recente reedição do livro DO SABER AO FAZER: PORQUÊ ORGANIZAR A CIÊNCIA, Gradiva. Novembro. 2003
O fazer, neste século XXI, não se pode alhear dos caminhos percorridos pelo saber, nem dos obstáculos que se levantam à sua operacionalização. O "malfazer", aquele que actua na ocultação deliberada do saber, não pode mais ter perdão, à escala planetária em que vivemos. O malfazer é obra de malfeitores.
Mais nada.
JTD