O Zé Nova tornou o seu atelier mais frequentável ainda, e convida-nos a fazermos uma visita. Abre este fim de semana e eu não vou faltar. Estava aqui a pensar escrever um texto sobre ele e o seu trabalho, mas lembrei-me que já tinha dito qualquer coisa quando ele expôs, a meu convite, na Casa da Cultura, Setúbal. Gostei verdadeiramente da proposta expositiva, mas o Zé Nova, revestido da honestidade intelectual que lhe conhecemos, perguntava-me: achas que vale a pena mostrarmos isto? O Zé Nova tem uma linguagem estética que rejeita o oportunismo. Uma maneira de fazer as coisas muito própria. O pedido de confirmação não é humildade, é mesmo procura de um entendimento. Quer saber a nossa opinião. A minha foi escrita e publicada aqui no dia 1 de julho de 2013. A exposição abriu no dia 5. Eu disse isto:
A RAINHA DO NADA | Histórias para ver, ler e contar, e voltar a ver...
Está sempre a acontecer qualquer coisa nas nossas vidas. Todos temos episódios para contar quando o dia chega ao fim. Coisas boas, coisas ruins... coisas. Umas
caem na vulgaridade dos relatórios pessoais diários, outras tiram-nos
do sério ou empolgam-nos. Há vidas povoadas de agitadas e deliciosas
histórias.
Zé Nova passa a vida a fazer desenhos. É a vida dele. E há um gato na vida do desenhador. O Heitor. Heitor Nova, pois claro. Um
sacana de um gato que tem a mania que é dono do seu criador e que passa
a vida a observá-lo e a fazer aquelas coisas que os gatos fazem.
Zé Nova utiliza as suas vivências para contar histórias que são imagens das nossas vidas.
A sua actividade profissional é uma espécie de atento diário gráfico.
É
assim a vida de um artista. O fazedor de imagens observa discretamente a
existência alheia, para depois a contar com contornos apurados de
malícia, ternura ou crítica.
A Rainha do Nada
aparece do nada, não sabe de nada, não tem nada, não quer saber de
nada. Só sabe que quer ser andorinha, e aconchega-se nesse ninho
surrealista, inscrito em matéricos suportes antes utilizados em outras
construções.
E depois há o teatro. Representação importante na acção profissional de Zé Nova.
Trabalha na concepção de figurinos para vários grupos. TAS - Teatro
Animação de Setúbal, Fontenova, Dançarte, Lua Cheia, entre outros, já
experimentaram as vestimentas deste exigente costureiro. Sim,
costureiro: é ele que executa os figurinos que desenha.
Um competentíssimo costume designer que não entrega as suas acarinhadas criações a mãos alheias.
Mantem
também colaboração com a Porto Editora, na elaboração de manuais
escolares. Foi para estes editores que concebeu, em parceria criativa
com a escritora Luísa Ducla Soares, a figura do Alfa. Um boneco que
ajuda a malta mais nova nos afazeres escolares.