Interpretações de vidas que nos despertam e esclarecem. Maneiras de olhar que nos perturbam mas aliviam dores. Pensar é bom. Olhar e tentar perceber alimenta-nos os sentidos.
Olhei para este texto de Teresa Rita Lopes com novas lentes. Talvez a passagem do tempo tivesse alterado o ambiente. Não alterou. Lembrei-me da música de José Afonso "Por trás daquela janela", dedicada a um seu amigo preso pelos fascistas no tempo da ditadura. Tempo que parece estar a provocar saudades a quem não o viveu. Imbecis sempre existiram.
Este texto interpreta a angústia provocada pela falta de liberdade. Tentei criar um ambiente lúgubre, onde qualquer vislumbre de conforto não existisse. Paredes que aludem a um reboco em cimento, executadas por técnica da pintura artística. Camas anti-sono. Roupas sem conforto. Não existem ornamentos para teatralidade corriqueira ou para apelos a sentimentos de riso fácil ou de tristeza de circunstância. Procura-se o mínimo. Um fósforo é um foguetório para quem não vê a luz do dia. Os raios de luz da manhã são luxo. Esta simplicidade é perturbadora porque o medo está sempre presente e a repressão dos guardas prisionais espreita. No final, um som reproduz os passos da canção que iniciou o processo contra o fascismo. É a esperança em que melhores dias se aproximem.
Mas atenção: não é de momentos deprimentes que falamos. É de beleza e de inteligência. Esta peça é lindíssima, atrevo-me. Isso deve-se a um trabalho de grupo exercido com rigor e profissionalismo por Gertrudes Félix, na execução de roupas e outras costuras; Rui Curto, na construção das peças cenográficas; José Santos, nos efeitos sonoros e visuais; João Carlos Fonseca, nos acertos técnicos cenográficos; Ana Isabel Delgado na produção.