quinta-feira, 30 de novembro de 2006

Pelo sim, pois

A data foi marcada pelo Presidente da República. Onze de Fevereiro será o dia em que a população portuguesa fará uma escolha histórica.
E a História contará: se em Portugal se preferem as ancestrais condenações, ou, se pelo contrário, optamos pela tolerância e pela evolução dos comportamentos.
Há condenações que envergonham. Mas há quem as defenda. O debate não deverá trazer nada de novo. Todas as diferenças estão esclarecidas. Esperemos que não se pise o estrado do folclore obsceno.
Quem defende o direito a decidir sobre a sua vida com dignidade
não o merece.
JTD

quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Flexiquê?

A flexibilidade que se pretende importar da Dinamarca provocou um expressivo franzir de nariz nas faces de patrões e sindicalistas. O que salta da proposta é o mais generoso auxílio estatal aos dispensados dos seus empregos: empregador desemprega, mas o Estado garante subsistência. Será a melhor solução em tempo de redução de despesas por parte do orçamento? Há uma comissão a estudar esta flexisegurança. Com a tendência para transformarmos o provisório em definitivo, ainda corremos o risco de tornar esta flexibilidade em imutabilidade. Contem com isso, senhores da comissão.
JTD

Aqui Constantinopla


Enquanto cardeal, Ratzinger defendeu que a Turquia não constasse no mapa da Europa. Agora defende o diálogo entre fés e nações. Há mesmo quem o considere uma garantia para a transição. A intensidade das manifestações da maioria muçulmana desmentem-no. Dificilmente serão corrigidos os erros de recentes episódios. O Papa, político, percebeu que os muçulmanos já cá estão. E, religiosamente, tenta a aproximação. Mas não se percebe muito bem com quem querem estar os seguidores de Maomé. Bento XVI defende um entendimento entre religiões e é nesse sentido que trabalha. Vai ser uma carga de trabalhos.
JTD
Baptistão Imagem

terça-feira, 28 de novembro de 2006

Três anos


Há 3 anos que andamos a postar. Fez no dia 24. Nem me lembrei de assinalar a data. Não houve bolo com velas, nem parabéns para ninguém. Só uma coisa é certa: vamos continuar.
Muito obrigado aos que por cá vão passando.
JTD
Twombly Imagem

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Tantas vidas lhe faltavam


Maria José Margarido era jornalista. Eram entusiasmadas e vivas as suas reportagens no Diário de Notícias. Mas ela morreu, num estúpido acidente que tirou também a vida aos amigos que com ela seguiam no aparelho aéreo que se despenhou. Ela tinha 34 anos. Os amigos, 28, 33 e 34. Partida sem regresso. Uma partida da vida.
Esta notícia nunca deveria ter existido.
A Fernanda falou sobre a sua amiga e colega de trabalho.
Sabe, portanto, do que fala.
JTD

Vox populi


O Público todos os dias faz perguntas a gente que anda por aí, como todos nós. Hoje perguntou a quatro portugueses se conheciam a obra de Cesariny. Um engenheiro, uma advogada e dois reformados (nunca percebi porque é que depois de dar-mos o litro a trabalhar, durante uma vida inteira, deixamos de ter profissão a seguir ao nome), uniram-se na resposta: que não, já ouvi falar, não me é estranho. Duas pessoas que já tiveram vida activa e duas no seu auge, e com formação dita superior, desconhecem a obra de um dos mais importantes criadores cá da terra. Se são publicados quase cinquenta livros por dia, que livros se lerão em Portugal?
JTD
Mário Cesariny Imagem

É favor não sair do comboio em andamento


Segundo o primeiro-ministro aqui do lado, Portugal e Espanha souberam entrar no comboio da Democracia, da Modernidade e do Progresso.
Espanha apanhou o comboio da frente, partiu à tabela, e lá vai a todo o vapor. Nós ficámos mais para trás e paramos em todas as estações e apeadeiros. Pela gare da Democracia já passámos. Vamos lá a ver se chegamos a tempo aos outros destinos.
Está lenta, a marcha.
JTD

domingo, 26 de novembro de 2006

Mário Cesariny


Morreu Cesariny. A vida é assim: a gente nasce, vive e morre. Não necesssariamente por esta ordem? Claro que não, há quem esteja morto em vida. Não foi seguramente o caso do poeta que hoje se despediu. Vamos lá ouvi-lo mais uma vez. Outras mais virâo.

A um rato morto encontrado num parque

Este findou aqui sua vasta carreira
de rato vivo e escuro ante as constelações
a sua pequena medida não humilha
senão aqueles que tudo querem imenso
e só sabem pensar em termos de homem ou árvore
pois decerto este rato destinou como soube (e até como não soube)
o milagre das patas - tão junto ao focinho! -
que afinal estavam justas, servindo muito bem
para agatanhar, fugir, segurar o alimento, voltar
atrás de repente, quando necessário
Está pois tudo certo, ó "Deus dos cemitérios pequenos"?
Mas quem sabe quem sabe quando há engano
nos escritórios do inferno? Quem poderá dizer
que não era para príncipe ou julgador de povos
o ímpeto primeiro desta criação
irrisória para o mundo - com mundo nela?
Tantas preocupações às donas de casa - e aos médicos -
ele dava!
Como brincar ao bem e ao mal se estes nos faltam?
Algum rapazola entendeu sua esta vida tão ímpar
e passou nela a roda com que se amam
olhos nos olhos - vítima e carrasco
Não tinha amigos? Enganava os pais?
Ia por ali fora, minúsculo corpo divertido
e agora parado, aquoso, cheira mal.
Sem abuso
que final há-de dar-se a este poema?
Romântico? Clássico? Regionalista?
Como acabar com um corpo corajoso e humílimo
morto em pleno exercício da sua lira?

A cantiga é uma arma


O Expresso aliou-se ao povo musical lisboeta numa luta contra a grande desgraça que é o fim da Festa da Música. Juntou um punhado de melómanos, e vá de dar a conhecer depoimentos desses grandes frequentadores de espaços de cultura. Pelas opiniões reveladas, ficamos arrepiados com o anunciado fim da arte musical em Portugal. O antigo Presidente, Jorge Sampaio, apreciador de ópera em estádios de futebol, vem logo à cabeça nesta luta sem quartel. De entre as declarações de guerra a tão violenta decisão, conta-se uma deveras interessante, desse grande vulto da opinião melómana, o sindicalista Carvalho da Silva: "Estou a favor do movimento contra o fim da Festa da Música". O singelo reparo corta-nos o coração. E ele que não estivesse contra fosse o que fosse. Eis, portanto, mais uma justa luta contra o obscurantismo cultural em Portugal.
JTD
Andy Warhol Imagem

sábado, 25 de novembro de 2006

Amador sem coisa amada



Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.

Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.

Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.

António Gedeão Texto
Antoni Tapies Imagem

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Para quê?

Quarta-feira passada, Setúbal acordou com muitas das suas artérias engalanadas com vistosos pendões do PCP. Foices e martelos, Marx, Engels, e Lenine ostentam as ruas da cidade. De repente, parece que caímos em Tirana no tempo de Enver Hoxa. Que se passa? Satisfação pelo brilhante desempenho dos dirigentes autárquicos? Andam a preparar alguma? Ou não passa de uma simples demonstração de orgulho comunista? Seja o que for, impressiona. Por esse lado, a coisa já está ganha.
JTD

Regras são regras

O PCP sugeriu que Luisa Mesquita se pusesse a andar. Luísa, muito bem sentada, não lhe apetece ceder o lugar quentinho que ocupa na Assembleia da República. Se assinou o acordo inicial que estabelece o funcionamento dos representantes do partido, fica lá a fazer o quê? Sozinha contra maiorias e minorias? Há quem compare este caso com o de Carlos de Sousa, em Setúbal. Talvez, mas Sousa não esqueceu o que assinou por baixo antes de ocupar o cargo. Luísa Mesquita faz-se esquecida.
Está-se bem, aí por São Bento, não é senhora deputada?
JTD

quinta-feira, 23 de novembro de 2006

Fora-de-prazo

Manuel Alegre foi botar figura no lançamento de um livro sobre
D. Duarte de Bragança. Troca de galhardetes e outros aperitivos abrilhantaram o monárquico evento. O rei sem trono resolve elogiar Alegre. Declara o seu convencimento em como entre os republicanos ainda há patriotas. Alegre foi em representação dos últimos portugueses que merecem a bênção de D. Duarte. Toma lá que já almoçaste.
O poeta-deputado está velho. Velho e estragado.
JTD

Passeio de família

Um grupo de pessoal da tropa está a organizar um passeio pela baixa. O Governo Civil encara a passeata como manifestação de protesto. Que não, dizem os militares, é apenas uma normal caminhada como se de uma família se tratasse. Um esclarecedor comunicado, lido por um pacato transeunte, desmente a governadora civil. Nós, parados no passeio, acreditamos nesta súbita vontade de os militares darem uma voltinha pela baixa. Enternece-nos essa saudável decisão. Apetece-nos mesmo mandá-los passear.
JTD

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

Ainda a festança

A Festa da Música já durava há sete anos. Como nunca fui grande frequentador de feiras e mercados, não sentia o apelo. Mega Ferreira herdou a gestão do concorrido evento. Percebe-se que, para muita gente, este era o único contacto com a música séria (chamemos-lhe assim). Nos restantes dias do ano, o convívio com sons mais elaborados não existe: resumindo-se talvez à circunstancial passagem nas telenovelas e anúncios, na televisão.
Mega anúncia coisa nova: uma festinha mais íntima, com orçamento mais familiar e aconchegada à volta do piano. Pelo que se conhece da capacidade de iniciativa do presidente do CCB, não será difícil entender as melhoras. A imaginação dará bons frutos, acho e espero. Por mim, até prefiro assim: gosto das coisas mais arrumadinhas.
JTD

Nem oito, nem oitenta

Cá, o Presidente Cavaco fala como porta-voz do Governo.
A proximidade é aparentemente excessiva. Em Timor, o Presidente Xanana declara oposição ao partido mais votado. Xanana Gusmão ataca e insinua. Diz que a direcção da Fretilin está num estado de trauma mais psicológico que político. Acrescenta ainda, o Presidente analista, que "eles têm medo de qualquer coisa". O diagnóstico está feito, só falta passar o receituário. Sabemos que, quem vê o andamento da carruagem é que sabe quem vai lá dentro. Mas também já percebemos como não deve ser um Presidente da República.
JTD

terça-feira, 21 de novembro de 2006

O mínimo dos mínimos


Patrões e sindicalistas debatem a possibilidade de um aumento do Salário Mínimo. Para o patronato, o aumento proposto é um exagero. Para os sindicatos, sabe a pouco. Difícil de gerir, este dá e tira.
É contraditória esta gestão de migalhas num país que se pretende na rota do desenvolvimento.
Lamentável mesmo, é perceber que muitos dos que trabalham aqui tão perto, são pagos com o mínimo dos mínimos.
E parece que está para durar.
JTD
Edward Hopper Imagem

Música e festa


Ía dizer qualquer coisa sobre as últimas da Festa da Música no CCB, mas o João Gonçalves já o fez tão bem, que me fico por aqui.
JTD

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

A Estação de Correios da Rua Dupin


Foi este o título que Marguerite Duras e François Miterrand escolheram para encapar o livro que revela conversas entre ambos, decorridas durante o segundo mandato do então Presidente de França. A ideia vem dos tempos em que ambos resistiam. Aquela rua foi importante para a aproximação entre estas duas figuras da política e da literatura.
Os editores portugueses utilizam, como frase promocional, uma opinião publicada no Libération: "Digam adeus à esquerda e à literatura. Bem-vindos ao mundo das pessoas vulgares". Não se fala de outra coisa ao longo das quase cento e trinta páginas de diálogo. Mas há razão para esta opinião: é um taco-a-taco entre pessoas que falam abertamente dos seus problemas, mas também dos males dos outros. Das grandes chatices da humanidade e das preocupações com o bem-estar dos filhos. Uma frase, de Duras, misturada na normalidade da conversa:
"A beleza é como a felicidade, tememos pela sua fraqueza".
É a percepção das pequenas coisas que nos desperta para a complicada realidade. Será a vulgaridade uma ameaça? Não, se a sua gestão for exigente. Bem-vindos, portanto, ao mundo das pessoas vulgares.
Pois então.
JTD

Marguerite Duras, François Miterrand
A Estação de Correios da Rua Dupin
Edição Casa das Letras

As magras dão mais brilho ao desfile


A discussão sobre a anorexia está ao rubro no Brasil. Duas mortes justificam-no. As jovens fatalmente atingidas pela doença, estavam na idade em que, em circunstâncias normais, se começa a pensar o que fazer na vida. Afinal, acabaram de exaustão por motivos profissionais. Para a correcção de futuros males, fala-se em acompanhamento por parte de nutricionistas e psiquiatras.
Olhando a idade em que as raparigas iniciam a actividade, não seria melhor haver um pediatra por perto?
JTD

domingo, 19 de novembro de 2006

Royal política


Ségonèle Royal, é quem está mais próxima da vitória, entre os candidatos das esquerdas, nas eleições em França. Em termos estritamente políticos o reconhecimento está longe de existir.
A candidata socialista está prestes a encetar em França a fórmula do socialista envernizado. Verniz de qualidade duvidosa, importado do estado a que chegaram as ideologias. Aquilo que outrora era constatação das direitas: sempre foi assim; é a realidade, é hoje revelação da esquerda Royal: é a realidade; não há nada a fazer.
Seja, portanto, qual for o resultado eleitoral, França vai abraçar esta "realidade". Claro que há outras esquerdas. E, parece evidente, que estamos longe de uma unidade ganhadora. Os atropelos e tropelias vão suceder-se. Esperemos que não seja reeditada aquela estranha unidade que permitiu a eleição de Chirac. Mas tudo pode acontecer. E vai acontecer algo semelhante. É mais certo do que a bandeira francesa ter três cores.
JTD

sábado, 18 de novembro de 2006

Américo Ribeiro | Todos os dias


Américo Ribeiro foi um profissional do seu tempo. Durante as décadas em que exerceu a profissão, empenhou-se sempre por se adaptar aos materiais que lhe permitiam melhor definição técnica, numa busca permanente de tornar mais eficaz o resultado final. Durante a sua vida, o estúdio-loja que dirigiu esteve sempre na vanguarda da arte fotográfica. Os retratos dos seus contemporâneos ainda hoje são mostrados com orgulho pelos seus descendentes. Mas não foi só o estúdio que o encorajou e lhe animou os dias. Américo foi para a rua para entender o seu tempo. Fotografou tudo o que com ele dialogou. Queria contar o que estava a acontecer. Percebeu que essa sua obsessão poderia ser útil mais tarde.

É hoje lançado, às 16 horas, no salão nobre da câmara municipal de Setúbal, o livro "Américo Ribeiro | Todos os dias", de Madureira Lopes. Os projectos editorial e gráfico foram feitos pela malta.
Apareçam, se puderem.
JTD

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

O governo de Cavaco

Vi, em transmissão tardia, a entrevista ao Presidente da República. Cavaco está com o Governo. Não se vislumbra o mínimo desentendimento. A oposição de direita está tramada: não é em Belém que encontrará eco para os seus propósitos. Oxalá já tenham deitado fora os balões, as t-shirts, bandeiras e bandeirolas do merchandising eleitoral.
Sempre ficava o sofrimento mais aliviado.
JTD

quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Cassete pirata

Que vinha aí uma entrevista a Santana Lopes, hoje, a seguir ao telejornal da RTP1. Afinal foi uma repetição.
Provavelmente enganaram-se na cassete. E eu a pensar que a conversa era em directo.
Com tudo isto, esqueci-me da entrevista a Cavaco, na SIC-N. Definitivamente, já não há pachorra para cassetes.
JTD

Câmara lenta


Já andava por aí um zum-zum, mas agora estalou. Maria José Nogueira Pinto algo fez que pôs Carmona pelos cabelos.
A vereadora do CDS-PP é a primeira a saltar da carruagem.
Primeiro em Setúbal, agora em Lisboa, estes prestimosos autarcas não parecem ter como prioridade a vontade de servir as populações.
As acrimónias pessoais, e os interesses partidários, levam avanço sobre os anseios dos eleitores.
Não há boa-vontade que resista a tanta trapalhada.
Tanto em Lisboa, como em Setúbal, as carruagens continuam, no seu lento andamento, por acidentados trilhos.
Pelo andar, vê-se quem vai lá dentro. Não é quem gostaríamos de ver, seguramente.
JTD

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Is an injustice...


Passei os olhos pelo livro de Santana Lopes. Aquilo até marchava como argumento para uma "sitcom". Tem condimentos para isso: lamúria, intriga, auto-elogio, conflito, gente famosa em cena, golpes palacianos.
Agora assim, sem cinta esclarecedora envolvendo a capa, é penoso.
O menino da incubadora cresceu, mas mal. De repente envelheceu e depende da arrastadeira.
Não tarda, começa a levar no toutiço dos seus confrades. É o costume.
Mas está mal, muito mal: não se bate nos velhinhos.
JTD

Os buracos de Santana

O buracos são uma carga de trabalhos para as autarquias. Urbe que exiba solo esburacado não fica bem no retrato. Mas há buracos e buracos. Ali para os lados do Marquês há um buraco político. Foi promessa eleitoral. Santana Lopes colocou-o como prioridade: uma espécie de obra de regime camarário. O desassossego dura há quatro anos e ainda não percebemos muito bem para que servirá aquilo.
A inauguração, de uma parte do imbróglio, está para breve. Santana é assim: cava sempre o buraco onde acaba por cair.
JTD

Uma história simples


A propósito da exposição de Amadeu de Sousa-Cardoso, na Gulbenkian, uma jornalista do jornal da 2, das 22 horas, entrevista Julião Sarmento, em directo, durante a inauguração. Viram? Foi um papelinho: quais as influências, que dimensão, em suma, um rol de vulgaridades a que Julião tenta responder com simpatia. Fala da temporalidade da Obra de Arte, da relação com os seus pares, ou seja, da interferência que as expressões artísticas estabelecem no diálogo entre si, da pouca importância do espaço geográfico na Arte, enfim, foi cosmopolita e intelectualmente sincero, usando o tipo de discurso a que nos habituou.
A entrevistadora não percebeu peva. Nada de grave.
O giro mesmo foi o ar incrédulo da "pivot", Alberta Marques Fernandes, em estúdio, que, não percebendo nada, recorreu ao comentário desbragado. Exibindo um sorriso insolente ao canto da boca, foi debitando disparates compassados com excessivas e ridículas pausas.
A ignorância e a indelicadeza soltaram-se naquele estúdio.
Um bocadinho parva, esta moda de os apresentadores dos noticiários televisivos terem a mania de ser salientes.
Valha-nos Amadeu, que a partir de agora tem parte significativa da Obra em exposição na Fundação Calouste Gulbenkian.
JTD
Amadeu de Sousa-Cardoso Imagem

terça-feira, 14 de novembro de 2006

Levante-se a ré


Afinal não vão estar tão fora de combate como inicialmente anunciaram. Os bispos portugueses acham que a Assembleia da República não tem nada que fazer leis sobre a IVG. Os bispos condenam a possibilidade de a mulher decidir sobre o seu corpo.
É melhor serem eles a decidir. Por amor de Deus!
JTD
Jorge Pinheiro Imagem

Também tu...

"Sampaio prestou péssimo serviço ao país", diz Santana. De acordo. Permitir a ausência de governo durante quatro meses não é coisa bonita. E a política deve ser bonita. Não é assim, dr. Santana Lopes?
JTD

Prête à Porter


O Ministério Público vai farejar crimes económicos e financeiros.
Faz bem. O truque de colarinho branco, com as suas coloridas gravatas, sempre assentou muito bem com os botões de punho da lei. Não falamos de estalos e safanões. Falamos de crimes que, pela suposta elegância institucional que os envolve, se tornam actos "respeitáveis".
Há colarinhos engomados de má qualidade que continuam por aí a ornamentar muito pescoço de empresário e autarca.
Isto vai mudar? Talvez, depende do asseio das golas dos investigadores.
JTD
George Grozs Imagem

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Atch...


Uma terrível constipação afasta-me do teclado e do vidro electrónico.
Esta coisa deixa-nos sem vontade para nada, não é?
Vamos lá a ver se amanhã...
Diz que é fruta da época. É mas é fruta estragada.
JTD
Turner Imagem

domingo, 12 de novembro de 2006

Novembro de luxo


Já repararam na quantidade de eventos que animam esta terra durante este mês de Novembro? É uma multidão de músicos e cantores que, vindos "lá de fora" vêm animar os que estão cá dentro.
O marasmo cultural já não mora aqui. Anda por aí gente como Chico Buarque, Badi Assad, Carla Bozulich, as manas Lebeque, Herbie Hancock, Andrew Hill, Maria Schneider, Madeleine Peyruox, Natacha Atlas, Al Di Meola, Konrad Black, Michael Nyman, Patricia Barber, Wayne Shorter, Anastasia Belyaeva, Irina Mataeva, Alfred Brendel, Steve Reich e Keith Jarrett com Jack DeJohnette e Gary Peacock. Este caldinho de talentos está a ser derramado por todo o país. São várias as cidades que os recebem. É claro que, apesar do esforço, não me devo ter lembrado de todos. Mas convenhamos que, com esta amostra, já temos um mês e pêras em termos musicais.
Lá mais para a noite, vou até ao CCB ouvir Keith Jarrett ao piano, acompanhado pelos seus amigos contrabaixista e baterista.
Depois do que aconteceu na última vez que por cá passou, espero que inconvenientes tosses não ensombrem a actuação. Eu, que até estou meio constipado, já estou a tomar xarope, não vá o diabo tossi-las.
Boa música e até amanhã.
JTD

sábado, 11 de novembro de 2006

A mentira é uma arma

Durão Barroso, que viu com aqueles dois que a terra há-de comer, as provas de que as armas de destruição massiva estavam no Iraque, não deve estar nada interessado em pronunciar-se sobre a destituição do outro vidente americano.
Claro que não está nada ralado com o assunto. Para o cargo que ocupa até nem há necessidade de eleições.
JTD

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

Michael Biberstein


É um dos artistas representados na mostra "Onze artistas", na sede da AERSET, em Setúbal, que suscitou várias entradas opinativas lá em baixo, no dia 27 de Outubro. Já respondi e retorqui.
Este trabalho é de 2002 e esteve exposto no Centro Cultural Emmérico Nunes, no Verão de 2005.
Michael Biberstein nasceu em Solothurn, Suíça, em 1948. Em Portugal quedou-se inicialmente em Sintra. Mais tarde deixou-se fascinar pela aridez do Alto Alentejo, onde vive e trabalha actualmente. Conta com uma extensa lista de exposições individuais. Destacam-se Compressores/Aceleradores, Museo Extremeño e Iberamericano de Arte Contemporáneo, Badajoz; The Compulsive Image, Kunsthalle Tallinn; Towards Silence, Galerie Rudolfinum, Praga.
JTD

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Caído em combate

O sinistro Donald Rumsfeld foi à vida.
Foi preciso explicar tudinho para que este senhor da guerra fosse corrido.
É o primeiro "libertador" que cai.
No Iraque continua muita gente a cair, mas morta.
JTD

Humanidades


O Nepal parece que viu fim a uma rebelião com uma década de duração. Provavelmente as armas foram substituídas por bom senso. Agora discute-se se deve continuar a haver monarca ou não. Assim como assim, já pouco importa. Aquilo parece um jogo de sorte e azar. Fala-se do Nepal quando se quer tornar relativa a importância de alguma coisa, com sugestivas piadas: "Fulano foi distinguido com o Grande Prémio de Escritores do Nepal". Ficamos assim esclarecidos sobre a nulidade do valor do hipotético laureado. É mesmo para gozar.
Aqui, na "civilização", tem muito mais importância o caso amoroso de uma senhora dos concursos da televisão com um senhor das telenovelas. As notícias sobre as desventuras daquele país vêm no fundo dos jornais. Se calhar até parece ridículo eu estar para aqui a dizer coisas sobre o assunto.
Mas também é verdade que mora lá gente como nós.
É isso que é chato.
JTD
National Geographic Imagem

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Sequestros, S.A.

Os sequestros começam a dar lugar a considerável espectáculo.
Os sequestrados têm, com toda a justiça, direito aos seus minutos de fama.
Desta vez foi um padre. Um pandego doido-varrido que quer ir beber uns copos com os sequestradores. Não tarda surgem por aí angariadores de candidatos a sequestrados. Parece que já há inscritos na Assembleia da República. Uma iniciativa destas por lá, bem preparadinha e sem violências, com um bom serviço de "cattering", dava um jeitaço a muito deputado que por ali anda: dava-se por eles.
JTD

São rosas, senhor



O Orçamento de Estado não é elástico. E em casa onde não há pão...
O milagre da multiplicação não é conto para esta audiência.
As oposições de direita, coadjuvadas por economistas puros e duros, querem mais: querem o milagre à força.
Ora, contenção não é subtracção. E de milagres não temos conhecimento desde o tempo em que não era a economia a ditar as regras.
O desenvolvimento económico não acredita em milagres: é agnóstico e materialista. E até o milagre das rosas, da Rainha Santa Isabel, foi correcção de última hora.
JTD
Euan uglow Imagem

terça-feira, 7 de novembro de 2006

Linha férrea

O debate - Prós e contras, na RTP1 - sobre o orçamento, está a ser extremamente esclarecedor: estamos tramados.
Tanto os funcionários públicos, como os privados, podem começar a pôr as barbas de molho.
A percentagem de crescimento depende das contenções. As contenções são difíceis de aplicar, parece.
Os direitos adquiridos estão cada vez mais tolhidos.
Luz ao fundo do túnel?
Cuidado, desviem-se, pode ser a locomotiva que nos vai liquidar definitivamente.
JTD

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Antes a morte que tal sorte

Bush diz que a condenação à morte de Saddam assegura o reforço da democracia no Iraque.
Para ele a democracia é coisa que se resolve à lei da bala, ou, neste caso, da forca.
No Texas, onde foi governador, esta prática é comum. Daí o seu contentamento.
O homem não via a hora da democracia chegar ao Iraque.
Foi ontem.
JTD

Para acabar de vez com a cultura

Rui Rio quer acabar com a cultura no Porto.
Alguém terá que lhe dizer que o tempo dos príncipes renascentistas acabou há eras.
Hoje vivemos em democracia. E, em democracia, os cidadãos têm direito a complementar a sua formação cultural e lúdica.
Os organismos públicos também servem para isso. Somos nós que permitimos a sua existência.
A actividade que o presidente da câmara do Porto exerce também é subsidiada. Ficaremos descansados quando entregar o telemóvel, o automóvel, prescindir do subsídio de refeições e de outras mordomias inerentes ao cargo que exerce.
Pode uma grande cidade europeia, como o Porto, viver sem expressão cultural adulta e cosmopolita?
Pode o País viver sem Democracia?
JTD

domingo, 5 de novembro de 2006

A morte dá sorte?


Saddam foi condenado à morte por enforcamento. Sentença comum nos tempos em que dirigiu o país.
É justo? Nessa proporção, talvez. Mas será razoável jogar, no mesmo tabuleiro, o xadrez da morte? Em política há que prever o que vem a seguir. O que talvez não tenha acontecido neste caso. Saddam Hussein morto poderá ser muito mais violento do que em vida. O Iraque não se livrará tão depressa do seu fantasma.
Esperem pela pancada...
JTD

sábado, 4 de novembro de 2006

Avançar e em força

Esta moda do chefe da Madeira a toda a hora nos noticiários, traz-me alguma confusão.
Ele anda a tramar alguma.
Já ameaçou com a independência. Agora fala em orgulho em ser português e mais não sei o quê.
Será que o homem tenciona separar-se, para depois, independente e soberano, invadir isto?
Vocês gozam? Olhem que pode ter apoios.
Imaginem que liga para o seu homólogo na Casa Branca (esse grande vulto da estratégia política), comunicando-lhe a intenção de dar cabo dos cubanos.
Ah pois, brinquem, brinquem...
JTD

Orgulho pátrio

Um grupo de pessoal do PSD foi até ao reinado de Alberto João Jardim. Foram apoiar o soba. Pelo caminho gramámos com o indiscritível Jaime Ramos, em declarações boçais, nos jornais televisivos.
Igual a si próprio, o soba declara que tem orgulho em ser português. Emocionante.
Pelos vistos, é a gente da Madeira que dá o mote ao partido de Marques Mendes. Onde quererão chegar, com este feitiozinho?
JTD

sexta-feira, 3 de novembro de 2006

Os novos monstros

Um jornal especializado em assuntos económicos, identifica Cavaco e Guterres como pais do "monstro". O termo "monstro", lembram-se? Foi Cavaco que o inventou, depois de se ter apeado do poder, e como forma de repreender a actuação de Guterres. Finalmente começamos a perceber que foram estes dois estadistas que utilizaram os tubos de ensaio que criaram a situação em que nos encontramos. Assim de repente, esta história faz-me lembrar um filme de Mario Monicelli, Dino Risi e Ettore Scola, "Os Novos Monstros": Um punhado de histórias em que criaturas que se levavam a sério, revelavam atitudes monstruosas inseridas numa aparente normalidade. Como dizem os putos nas suas brincadeiras: "Quem diz é quem é". Pois é.
JTD

quinta-feira, 2 de novembro de 2006

Como disse?

Dizem-me que em sessão pública da Assembleia Municipal, a presidente da câmara municipal de Setúbal proferiu palavras menos elogiosas a meu respeito. Acho que a coisa foi mesmo para o insultuoso. Vou pedir cópia da acta e, como é óbvio, vou comparecer na próxima sessão da Assembleia Municipal para, como é que se diz? Defender a honra e o meu bom nome.
JTD

É o futuro, estúpido!

A ministra ora aceita dialogar, ora manda o diálogo às urtigas. Está na cara.
Dialogará se os professores concordarem com ela. Deve ser.
Os professores estão dispostos a dialogar se a ministra fizer o que eles querem. É o que parece.
A ministra não quer o que os professores querem. A sério!?
Os alunos esperam que tudo corra pelo melhor. Tal como os pais.
Correr pelo melhor é pôr o Ensino a funcionar no sentido do futuro dos alunos e do desenvolvimento do país. Digo eu...
Estão a contar com isso? Vejam lá.
JTD

Independência das colónias, já!

A República da Madeira está a encetar um processo de transferência de poderes. É o que parece se tomarmos em conta as declarações de um tal sr. Coito Pita. Tal como Jardim, em tempos idos, o novo dirigente já ameaçou com a independência dos torrões do meio do Atlântico. Pelos vistos, tal como Jardim, acredita que com as fronteiras fechadas às demandas dos continentais (que os tratam como colonizados), as ilhotas seriam viáveis. Por mim, mudava já a fechadura.
Agora a sério: Não estou a gozar, não me levem a mal, mas, o tal possível candidato a sucessor não se chama mesmo assim, pois não?
JTD

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Halloween


Não percebo esta treta de se festejar o Halloween. Uma coisa é a gente gramar a cultura americana: não é difícil encontrar imensas referências por aquelas bandas. Outra coisa é sujeitarmo-nos a tudo o que de lá vem. Assim não. Salvas as proporções, ninguém imagina um americano exibir a degustação de uma sardinha assada, em festejos dos portuguesíssimos santos populares.
Então qual é a razão de andarmos feitos parvos de abóbora iluminada?
JTD

Massa de Cahora Bassa?


Agora é a barragem de Cahora Bassa. Fomos a Moçambique negociar: "Ó meus amigos, a malta largou aqui uma pipa de massa e agora como é que é? Podem largar algum, nem que seja para o petróleo?". Os Moçambicanos concordaram em alargar os cordões à bolsa, de facto. São 750 miilhões dele. Só que, negociar a entrega de tanta bagalhoça com um dos países mais pobres do mundo, deve ser obra. Obra de caridade, claro está. Não me parece que de Cahora Bassa venha tanta massa.
JTD