Tivemos durante muito tempo candidatos a candidatos. Agora já temos candidatos a sério, mas essa certeza não garante que esses candidatos sejam sérios. Todos, com excepção de Seguro [enjoado, mas verbalmente bem comportado), dão erros até a falar ou simplesmente "a dizer coisas". Desde "cidadões" até irem "de encontro", todos, excepto Seguro (enjoado, mas pronto), atropelam a gramática indo frequentemente "de encontro" não se sabe bem ao quê. O fascista boçal e alarve é sempre o candidato a tudo e ostenta muito apoio popular, nem que para isso tenha que reforçar as promessas de salvação com uns achaques de ocasião. Vale tudo, para iludir incautos.
Algo de novo paira no ar eleitoral. Desde que a hipótese do almirante surgiu que regressou também a ideia do "respeitinho é muito bonito". Qualquer reparo nas inabilidades verbais ou nos erros de interpretação do que é uma democracia política por parte do candidato, é logo classificado de má educação por alguns atentos seguidores do esbelto e atraente militar. Está instituído que temos que nos render ao "charme" do candidato militarista, e esquecer os graves disparates que debita. A vocação que esta gente tem para andar a "toque de caixa". Grandes doutores com altas classificações académicas e militares de altas patentes estão no terreno, portanto. O fascista foi imposto por Deus e representa-O aqui no rectângulo. Respeitinho. A mediocridade verbal — e mental , já agora — e a incompreensão das ideias de viver em sociedade e das propostas culturais não são para levar a sério. O que interessa é que gostam de "Deus, Pátria e Família", e polvilham o discurso com o incenso salvador da trilogia sinistra bem portuguesa dos três éfes (vocês sabem do que se está a falar). Vivem bem com pouco. "Pobrezinhos mas honrados". "As saudades que eu já tinha da minha alegre casinha". Provavelmente é melhor assim. Perante um governo que convive culturalmente com apologistas do descarado plágio e da cultura p'ra pular, e que parece estar para durar, um Presidente sem ideias, ou com a cabeça inundada de "ideias de merda" (os adeptos do almirante de água salobra que me perdoem a linguagem) tem mais condições para aconchegos políticos de ocasião. Quem quer cultura que a compre. O ministério foi acrescentado por outras distracções. O novo liberalismo não alinha em conteúdos pouco ou nada lucrativos. Deus lhes dê protecção, que nós andamos com pouco vagar para fantasias.
Nenhuma destas criaturas vai ter imagem impressa na minha camisola. Sinto um profundo desprezo pelo fascista: é insolente, apologista da ignorância mais obtusa e defensor da severa autoridade. Não é admissível em democracia, nem suportável em sociedade. Os fascistas combatem-se, não se suportam. Os outros também não suporto assim muito bem, mas pronto, que circulem e conversem. Falou e andou, e logo se vê quem ganhou.
Mas, atenção, é preciso termos alguém. Aguardo o candidato que possa unir a Esquerda e que afronte, na segunda volta, o militar salvador que despreza a política. Pelo menos ficamos a saber com quem contamos. Precisamos de recuperar o entusiasmo. "Seremos muitos, seremos alguém", como escreveu e cantou José Afonso. Está aí alguém ao fundo?
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