terça-feira, 5 de agosto de 2025
domingo, 3 de agosto de 2025
sábado, 2 de agosto de 2025
José Afonso, sempre!
Tive a sorte de conhecer pessoas que influenciaram pessoas, mudaram rumos, fizeram crescer atitudes, criaram ambientes diferentes. Melhores. De todas essas pessoas, há uma que se destaca. Era diferente de toda a gente. Parecia que tinha uma aura que o distinguia. Mas não era santo, era gente: "temos que ser gente", dizia ele. "Não podemos ser homenzinhos e mulherzinhas".
DOIS DEDOS DE CONVERSA COM... | Era este o título destas sessões. Foi no início dos anos oitenta do século passado que se deram. Polvilho estas palavras com imagens do encontro que promovi com José Afonso no Círculo Cultural de Setúbal, local onde hoje existe a Casa Da Cultura, e na sala onde aconteciam estes encontros, aqui ainda com as telas que entretanto desapareceram das paredes antes da aquisição e recuperação pelo município. Onde estarão? Também se vêem os livreiros que guardavam obras de incalculável valor. Exemplo: existiam ali encadernados todos os exemplares da "Ilustração Portuguesa", e também muitos clássicos da literatura universal. As fotografias são do Jorge Santos, assíduo frequentador destas sessões que nos deixou recentemente. Por lá passaram, para além do Zeca, Baptista-Bastos, António Lobo Antunes, José Saramago, Virgílio Martinho, Manuel da Fonseca, Rogério Ribeiro. Hipólito Clemente, Vitorino, Adriano Correia de Oliveira, Carlos Pinhão, Saldanha da Gama, enfim, muita gente que na altura punha as cartas na mesa. O Aníbal Telo, na altura editor — Forja — de alguns destes autores, deu uma grande ajuda naquilo a que hoje se poderá chamar logística. Estes encontros foram valorosos fornecedores de conhecimento. Notáveis palestras. Como comecei por dizer: tive a sorte de conhecer pessoas que influenciaram pessoas. Mudaram rumos e criaram ambientes diferentes. Melhores. E como diria o também meu amigo Jorge Silva Melo: "Ainda não acabámos".
quinta-feira, 31 de julho de 2025
Bob Wilson
Esta morte dói-me muito. Aprendi muito com Bob Wilson. Não, não foi meu professor ou mestre, mas aprendi como observador dos seus gestos na encenação e na conceção visual de muitos trabalhos. O que se observa no trabalho de Bob Wilson é fabuloso. E é uma aprendizagem.
Assisti a "Four Saints in Three Acts", no São Carlos em 2002. Tanta beleza até assustava. Aquilo não parecia feito por alguém de carne e osso. Alguém que se pode cruzar connosco na rua. Felizmente não acredito em deuses, o que me permitiu acreditar que o autor foi ele mesmo, aquele senhor que um dia eu cumprimentei no Frágil. Verdade. Havia uma festa qualquer que começava ao fim da tarde. Era verão. O Bairro Alto era diferente de agora. Era melhor. Eu cheguei por volta das sete da tarde. Era mesmo a hora de abertura da festa. Pensei que corria o risco de ser o primeiro a chegar. Não fui, mesmo à minha frente estava um homem muito grande (em todos os aspectos), de t-shirt preta, fato preto completo e copo na mão. Ouvia-se Lou Red. Cumprimentei-o, alinhavámos uma conversa de circunstância, fiz com que ele percebesse que eu conhecia o seu trabalho, e depois ficámos ali a "receber" os restantes convidados. O Manuel Reis chegou pouco depois e eu brinquei com isso: "Estive aqui a ocupar o teu lugar". Rimos, continuámos a conversa circunstancial e depois fomos ficando diluídos no convívio. A imagem deste encontro nunca mais me saiu da cabeça. Esta morte dói-me como se este encontro se tivesse repetido muitas vezes. Há gente que nunca deveria morrer. Mas isto é mesmo assim: vivemos com a memória do que nos fez crescer. Muito obrigado, senhor Bob Wilson. Foi bom viver no seu tempo.
Imagens: Bob Wilson fotografado por Robert Mapplethorpe. Só e com Philip Glass.
quarta-feira, 30 de julho de 2025
A Festa
Esta Festa é única. Onde é que já se viu uma cidade inteira a
festejar a Ilustração com os ilustradores? As convidadas são a Rachel
Caiano (nacional) e a Yara Kono (estrangeira), duas artistas com A
grande. A de Artista e de Atitude. Mas muito mais vai inundar a cidade. O
Zé Povinho faz 150 anos, e a publicação de palavras cruzadas em
Portugal faz 100 anos. Vão ter exposições. Mas disso e muito mais
falaremos na Apresentação da Festa, dia 4 de setembro, na Casa Da Cultura. A gente vai falando. Viva a Festa.
terça-feira, 29 de julho de 2025
Trabalhar, festejar, orar
As festas populares são vivências autênticas dos povos. Não foram concebidas por curadores, designers ou empresas de eventos. Tudo passa por uma vontade de participação entusiasmada. Estas pessoas trabalham intensamente para fazer boa figura. Para não desiludirem os seus antepassados. Gerações de gente do mar participa nesta Festa em homenagem à Santa da sua devoção. São pessoas de carne e osso que arriscam o corpo para garantirem sustento. Gente do mar que corre riscos, mas que não quer outra vida. A Fé move-os.
Nuno Guerreiro Soares quis conhecer melhor o que leva esta gente a este esforço. Percebeu que esta Festa magnífica torna-os ainda melhor gente. Percebeu, pediu fotografias, pinturas, poemas e outros afectos. Este livro é o depositário dessa recolha. Ana da Silva, professora que acompanhou esta tese de mestrado, foi o pilar que garantiu rigor académico e qualidade ao empreendimento. Toda a gente está de parabéns: quem faz as festividades, quem participa e quem agora nos fornece esta publicação. Muito obrigado, Nuno Guerreiro Soares e Ana da Silva. Este livro é singular.
segunda-feira, 28 de julho de 2025
A morte saiu à rua
Dois nomes grados da inteligência visual morreram no mesmo dia: Maria José Palla e Nuno Portas. Foram pioneiros e decisores. Deram novas visões ao mundo nas acções que desenvolveram. Maria José Palla fotografou com olhos esclarecidos e cabeça culta. Nuno Portas olhou de outra maneira para a falta de habitação. Lembro-me do Processo SAAL, que construiu casas para quem não as tinha. Há gente assim: imprescindível. Sem eles as coisas não teriam sido como são. Muito obrigado, Maria José Palla e Nuno Portas. Foi bom viver no vosso tempo.
quinta-feira, 24 de julho de 2025
Um pastel de nata depois de almoço
Álvaro de Vancouver vai para o Banco de Portugal. Os pastéis de nata vão ter palco institucional. Aquele senhor Leitão que é ministro diz que Álvaro é independente, competente e livre. Muito mais competente do que Centeno, diz Leitão. Leitão já assegurou o lugar de humorista principal ao serviço do Governo que nos saiu na rifa. Ventura, o fascista ao serviço do Governo, queria mais, mas diz que a escolha é mal menor. É importante percebermos a opinião do sócio de Montenegro neste negócio governamental. Estão bem uns para os outros. Tomam-nos por parvos, certo? Amem-se e odeiem-se, mas não esperem pela nossa assinatura. Ide fazer contas em outro rosário. As nossas contas estão feitas, e não contam com essas parcelas. Incomensuráveis parolos. Todos.
quarta-feira, 23 de julho de 2025
Prémio Nacional de Ilustração
André da Loba é Prémio Nacional de Ilustração 2025, com o audiolivro "Contos Cantados". O André foi o convidado nacional da Festa da Ilustração - Setúbal 2020, e participou na exposição Dar de Beber aos Olhos, na Casa Da Cultura, em fevereiro de 2022, que homenageou João Paulo Cotrim. Parabéns, André. Vamos continuar. Abraço.
segunda-feira, 21 de julho de 2025
Uma taberna em São Bento
O taberneiro assume que a oposição está a fazer oposição. Afinal não é ele a oposição. Afinal o taberneiro considera-se ele próprio "a situação", ou seja, o primeiro-ministro, como refere o meu amigo José Simões no seu Der Terrorist.
domingo, 20 de julho de 2025
Porque hoje é domingo
DOMINGO
Quando chega domingo,
faço tenção de todas as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida.
Há quem vá para o pé das águas
deitar-se na areia e não pensar…
E há os que vão para o campo
cheios de grandes sentimentos bucólicos
porque leram, de véspera, no boletim do jornal:
«Bom tempo para amanhã»…
Mas uma maioria sai para as ruas pedindo,
pois nesse dia
aqueles que passeiam com a mulher e os filhos
são mais generosos.
Um rapaz que era pintor
não disse nada a ninguém
e escolheu o domingo para se matar.
Ainda hoje a família e os amigos
andam pensando por que seria.
Só não relacionam que se matou num domingo!...
Mariazinha Santos
(aquela que um dia se quis entregar,
que era o que a família desejava,
para que o seu futuro ficasse resolvido),
Mariazinha Santos
quando chega domingo,
vai com uma amiga para o cinema.
Deixa que lhe apalpem as coxas
e abafa os suspiros mordendo um lencinho que sua mãe lhe bordou,
quando ela era ainda muito menina…
Para eu contar isto
é que conheço todas as horas que fazem um dia de domingo!
À hora negra das noites frias e longas
sei duma hora numa escada
onde uma velha põe sua neta
e vem sorrir aos homens que passam!
E a costureirinha mais honesta que eu namorei
vendeu a virgindade num domingo
- porque é o dia em que estão fechadas as casas de penhores!
Há mais amargura nisto
que em toda a História das Guerras.
Partindo deste princípio,
que os economistas desconhecem ou fingem desconhecer,
eu podia destruir esta civilização capitalista, que inventou o domingo.
E esta era uma das coisas mais belas
que um homem podia fazer na vida!
Então,
todas as raparigas amariam no tempo próprio
e tudo seria natural
sem mendigos nas ruas nem casa de penhores…
Penso isto, e vou a grandes passadas…
E um domingo parei numa praça
e pus-me a gritar o que sentia,
mas todos acharam estranhos os meus modos
e estranha a minha voz…
Mariazinha Santos foi para o cinema
e outras menearam as ancas
- ao sol
como num ritual consagrado a um deus! –
até chegar o homem bem-amado entre todos
com uma nota de cem na mão estendida…
Venha a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta:
e eu fique rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras:
venha a ânsia do peito para os braços!
E vou a grandes passadas
como um louco maior que a sua loucura…
O rapaz que era pintor
aconchegou-se sobre a linha férrea
para que a morte o desfigurasse
e o seu corpo anónimo fosse uma bandeira trágica
de revolta contra o mundo.
Mas como o rosto lhe estava intacto
vai a família ao necrotério e ficou aterrada!
Conheci-o numa noite de bebedeira
e acho tudo aquilo natural.
A costureirinha que eu namorei
deixava-se ir para as ruas escuras
sem nenhum receio.
Uma vez chovia
até entrámos numa escada.
Somente sequer um beijo trocámos…
E isto porque no momento próprio
olhava para mim com um propósito tão sereno
que eu, que dela só desejava o corpo bem feito,
me punha a observar o outro aspecto do seu rosto,
que era aquela serenidade
de pessoa que tem a vida cheia e inteira.
No entanto, ela nunca pôs obstáculo
que nesse instante as minhas mãos segurassem as suas.
Hoje encontramo-nos aí pelos cafés…
(ela está sempre com sujeitos decentes)
e quando nos fitamos nos olhos,
bem lá no fundo dos olhos,
eu que sou homem nascido
para fazer as coisas mais heróicas da vida
viro a cabeça para o lado e digo:
- rapaz, traz-me um café…
O meu amigo, que era pintor,
contou-me numa noite de bebedeira:
- Olha,
quando chega domingo,
não há nada melhor que ir para o futebol…
E como os olhos se me enevoassem de água,
continuou com uma voz
que deve ser igual à que se ouve nos sonhos:
- …no entanto, conheço um homem
que ia para a beira do rio
e passava um dia inteirinho de domingo
segurando uma cana donde caía um fio para a água…
…um dia pescou um peixe,
e nunca mais lá voltou…
…O pior é pensar:
que hei-de fazer hoje, que toda a gente anda alegre
como se fosse uma festa?... –
O rapaz que era pintor sabia uma ciência rara,
tão rara e certa e maravilhosa
que deslumbrado se matou.
Pago o café e saio a grandes passadas.
Hoje e depois e todos os dias que vierem,
amo a vida mais e mais
que aqueles que sabem que vão morrer amanhã!
Mariazinha Santos,
que vá par ao cinema morder o lencinho que sua mãe lhe bordou…
E os senhores serenos, acompanhados da mulher e dos filhos,
que parem ao sol
e joguem um tostão na mão dos pedintes…
E a menina das horas longas e frias
continue pela mão de sua avó…
E tu, que só andas com cavalheiros decentes,
ó costureirinha honesta que eu namorei um dia,
fita-me bem no fundo dos olhos,
fita-me bem no fundo dos olhos!
Então,
virá a miséria maior que todas
secar o último restolho de moral que em mim resta;
e eu ficarei rude como o deserto
e agreste como o recorte das altas serras:
e virá a ânsia do peito para os braços!...
Domingo que vem,
eu vou fazer as coisas mais belas
que um homem pode fazer na vida!
sexta-feira, 18 de julho de 2025
Mandela
DIA MANDELA | Comemoração internacional instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em novembro de 2009. Assinala-se assim o nascimento do líder sul-africano Nelson Mandela.
O lixo do luxo
Luís Montenegro é um excelente homem de negócios que nunca deveria ser primeiro-ministro. Para dar um ar respeitável ao discurso cita autores que conhece de nome, mas que não percebe patavina o que escrevem. Percebe-se, aquela cabeça deve ser uma confusão. Deve confundir ministros com clientes, secretários de Estado com amanuenses, assim como confunde a obra dos autores que conhece de nome. Uma salada mal temperada de alhos com bugalhos. Indigestão garantida. Perigo de refluxo.
quinta-feira, 17 de julho de 2025
O frouxo, o fanfarrão e o burro
Temos como presidente da Assembleia da República um linguísta de elevado gabarito. Perante uma intervenção justamente exaltada de Pedro Delgado Alves, depois de uma repreensão do presidente pelo uso da palavra "fanfarrão" por José Luís Carneiro, isto para classificar as intervenções indescritíveis do líder fascista, Aguiar-Branco explicou a diferença entre "fanfarrão" e "frouxo", justificando os insultos do fascista. Os outros líderes têm que medir as palavras. Os fascistas é que não podem ser insultados, que é lá isso!? Aguiar-Branco não é frouxo nem fanfarrão. É ridículo. A benevolente intervenção de Aguiar-Branco foi ruidosamente aplaudida pelos fanfarrões do partido fascista. Está cada vez mais explicada esta aliança das direitas trogloditas, se é que posso usar a expressão. Pedro Delgado Alves envergonha-se das intervenções de Aguiar-Branco. Eu também tenho vergonha de ter esta frouxa criatura como segunda figura do Estado. Os fanfarrões fascistas combatem-se. Os fanfarrões e quem os apoiar.
terça-feira, 15 de julho de 2025
A paz, o pão
segunda-feira, 14 de julho de 2025
O Jornal de Letras
Parece que o JL vai acabar. Como frequente consumidor de informação escrita, tive no SE7E e no JL os meus primeiros entusiasmos. Até ali não havia imprensa com preocupações culturais a sério. Comprei os primeiros exemplares do JL e guardei-os até hoje. As primeiras páginas eram magníficas — as imagens junto não me deixam mentir — porque eram "resolvidas" pelo mestre João Abel Manta, que estendia a colaboração pelo interior. Foi um dos jornais mais incríveis graficamente. Lembro-me de muita coisa que percebi ali pela primeira vez.
Da fé
A extrema-direita usa a religião como ferramenta sua de trabalho político. Sugerem imposições de atitudes religiosas porque acham que isso é popular. Trump faz presépios pelo Natal e quer todos ajoelhados perante ideia tão maravilhosa. Os palonços que o seguem em todo o mundo também. O veterinário do partido fascista quer um presépio na Assembleia da República. Quando o partido fascista for governo está prometido. Todos somos incréus sujeitos às fantasias desta gente descerebrada.