sexta-feira, 18 de abril de 2025

O direito à surpresa

Álvaro de la Vega expõe em Setúbal obras que são espoleta para um bom entendimento da inteligência visual. Estas esculturas nascem da natureza, mas pela vontade do escultor. São testemunhos matéricos de uma nova maneira de olhar a transformação da natureza em Arte. Talvez causem surpresa, mas isso é o cimento que molda a expressão estética que o artista encontrou para se exprimir. 

Peças únicas, desenvolvidas de maneira única, não pela técnica (o que será isso?), mas sim pela competência intelectual. A estrutura que as define tem a autenticidade da matéria. A matéria vale muito para o escultor. É a vedeta da mostra. Assume as imperfeições e o tempo. As imperfeições do tempo, corrijo. Estas obras são esculpidas em parceira com a natureza de onde brotam. Parece que houve ali um acordo entre Álvaro de la Vega e a floresta. Um acordo secreto que depois se revela em respeito mútuo. Isso percebe-se muito bem.

Esta exposição em Setúbal é um privilégio. É um gosto muito grande passear por entre estes objectos incrivelmente belos e, por outro lado, mostrados com a exigência do inacabado. Sem complexos de agradar ao gosto malcriado. Estamos todos em movimento. Olhamos o mundo e as suas transformações com espanto. A obra nunca está acabada. O que acaba primeiro é a nossa vontade de olhar e ver. E sentir, já agora. Vamos aproveitar enquanto temos esta vontade assistida por uma curiosidade que nos fornece a tal surpresa. Devia haver uma lei que permitisse o direito à surpresa. E a arte teria a obrigação de fazer por responder a esse direito. Esta exposição figura entre o melhor que se pode olhar na actualidade. Surpreende e fascina. Ficamos amigos e cúmplices destas figuras únicas. São amigos agoara chegados. Prazer em conhecê-los. Muito obrigado, Álvaro de la Vega.

CONFLUÊNCIAS Álvaro de lá Vega. Casa da Cultura, Setúbal

Visitar mais em https://alvarodelavega.es/




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