Vai de carrinho, o país. A direita portuguesa, em tempos considerada a mais estúpida da Europa, passou a ter uma influência devastadora no país. Claro que sempre houve sinais que aqui e ali — Salazar como maior português em concurso televisivo de pacote, ódio aos emigrantes, desprezo pela cultura — revelavam já então esse crescimento, mas nunca como hoje se confirmavam em vontade de aplicação de orientações fascistas — o programa do Chega, da IL, e da própria AD estão minados de perigosos justicialismos pouco democráticos ou civilizados — com possibilidades de exercerem poder absoluto.
O crescimento da IL já seria um susto, mas o sucesso dos chiliques do caudilho tiveram o sucesso religioso da compaixão. Fado, Futebol e Fátima, foram marcas do outro fascismo que mostraram eficácia agora. Ventura vem do futebol e da religião, não tenho conhecimento da sua vocação fadista, mas é melhor não lhe darmos ideias. Sabemos que tudo lhe serve para manipular os incautos e favorecer os de sempre. E os de sempre preferem o poder político absoluto. Querem um caudilho.
Um mentiroso compulsivo passa a ser a oposição a um vigarista de bairro. Previsível: com o crescimento de eleitos das direitas dos malabarismos financeiros, desce o nível da política como causa pública. De quem é a culpa disto? A culpa não é dos cinquenta anos de democracia que estes energúmenos agora colocam como o mal de tudo o que existe. A democracia deu melhores condições de vida às pessoas. A corrupção não é argumento. O regime anterior caiu porque estava a cair de podre. A corrupção minava, mas era escondida. A comunicação social foi suporte do regime: corrupta e mentirosa. As grandes famílias — algumas agora com membros apoiantes do fascismo do Chega — manobravam, reprimiam e encobriam-se umas às outras, com a ajuda da PIDE e das polícias agressivamente ferozes - PSP nas cidades e GNR nos campos. Não existia liberdade de aprender e crescer culturalmente. As publicações mais interessantes eram proibidas. Salazar, o ditador criminoso, tudo controlava. O seu gosto era lei. O biltre dava ordens expressas à PIDE. Há uma circunstância que não é de menor importância. O fascista que manda no Chega — onde é tratado por "chefe"—, respondeu a um jornalista que o questionou sobre o que acabo de dizer com esta singela frase: "quero lá saber, eu nasci em 1983". Ou seja, a história nasceu com ele. O que está para trás que se lixe. O bandalho (para usar uma expressão que lhe é tão grata) é sempre o candidato a tudo. Nestas eleições nem se conhecem os eleitos. As listas com todos os nomes foram entregues no tribunal, como manda a lei, assegurava o "chefe", como se fosse assim que se faz e ponto final. Nas europeias, os malucos e as malucas que na rua o abordavam, respondiam aos jornalistas que era ele o candidato, sem perceberem que o verdadeiro candidato era o outro inenarrável estarola. Nas próximas autárquicas vai ser ele o candidato a todas as câmaras municipais e freguesias do país. O seu retrato irá aparecer ao lado do grunho encontrado lá num buraco qualquer. Dizem-me que nas autárquicas é diferente: as pessoas votam em pessoas, independentemente do partido a que pertencem. É? Têm a certeza? Então vamos lá apoiar democratas e fazedores. Mas não se esqueçam do TikTok. Se não os podes vencer. junta-te a eles, sim, mas para mudar o que estimula a estupidez. A inteligência e o progresso das ideias não pode ser "animal em vias de extinção". Boa sorte para toda a gente. Bem precisamos dela.
"O País Vai de Carrinho", é o título de uma canção de José Afonso, incluída no disco "Como se fora seu filho", gravado em 1983. O que está a acontecer levou-me até lá. A lucidez de José Afonso surpreende sempre.