Nunca estamos preparados para reagir a uma notícia triste que nos remete para os lugares em que fomos felizes. O fim é sempre inesperado. A morte é o último episódio de uma série de vivências que dariam filmes e mais filmes. Todos estamos no corredor, mas disfarçamos os dias fazendo por sermos autênticos, por assim dizer. Queremos ser felizes, ou ter uma vida normal, que é praticamente o mesmo, e é por isso que nos encontramos. Fazemos amigos. Conversamos, festejamos efemérides, divertimo-nos uns com os outros. Também trabalhamos e procuramos originalidades. Somos curiosos. Temos ideias e procuramos companhia para as partilharmos. Percebemos aí a possibilidade da amizade.
O Jorge Santos é meu amigo desde a adolescência. Quando o conheci ele trabalhava num jornal. Depois percorreu outros jornais e houve um em que estivemos juntos, o Repórter de Setúbal, ele como jornalista e eu a espalhar grafismos e a escrevinhar umas tretas. Mais tarde fiz o grafismo de uma publicação criada por ele - O Sadino: um jornal de pequeno formato, pago pela publicidade, distribuído gratuitamente nas entradas dos estádios de futebol da região que o nome denuncia. Mais tarde o Jorge foi para assessor de comunicação de uma instituição e por lá ficou até à reforma. Falta referir uma coisa: Não vivia sem humor. Penso mesmo que o humor em convívio com amigos eram o seu desporto preferido.
Antifascista, foi militante do PCP. Ainda no período fascista, no dia que se celebrava o dia do trabalhador, primeiro de maio, o Jorge passava-o no campo com os seus camaradas de trabalho. Jornalistas e gráficos tinham esse saudável hábito. Conheceu Luiz Pacheco e foi com ele que conviveu em muitos desses encontros. Nos últimos anos, sempre que se assinalava este dia, ele colocava na sua página desta geringonça uma fotografia desse convívio. Este ano não o fez. É por isso que o faço eu. Faço-o com a tristeza a minar-me gestos e raciocínio. Estou triste. Muito triste. Estas palavras são a minha homenagem a uma vida que valeu a pena.